30 setembro 2010

Mata-Munhoz

De tudo não mais querer
Quero todas as vaginas
Que meu`instinto se rebele
Em`êxtase, náusea e latrinas
Ver meu gozo escorrer
Já mais nada s`imagina
De mais nada hei de sofrer
Qu`este pacto ora se sele
E`em tudo quanto se bebe
Mergulharei a triste sina
Romperei a pele fina
De`onde a dor ora s`expele
De mais nada hei de sofrer
Quero só boas vaginas
Se tampouco as posso ter
Terei sempre uma vacina
Pra qu`o corpo se rebele
Em`êxtase, náusea e latrinas

25 junho 2010

Cândido Melo

Aquele que lê, em Ouro Preto, num Café,
As negras vinhas flores de Baudelaire
Após gélida tarde de flanêur
Ciente que está 150 anos além
Consegue, por intuição juvenil,
Perceber num instante faebril,
A senil lucidez daquele imbecil...

09 maio 2010

Cândido Melo

Ao telefone a voz dela é toda a existência sua que concluo.
Dedico minha atenção a ouvir-la e a pensar em o que estará vestindo.
As ondas elétricas transmitem sua voz feminina, não tão aguda,
Que atravessam meu tímpano esquerdo e atingem a parte
Do meu cérebro dedicada a perceber.
Recebo suas informações e penso em sua boca próxima ao telefone.
Marcamos um encontro.
Ao telefone ela era o movimento que saía de suas cordas vocais e o que eu pensava disso.
Agora, ao vê-la, sentí-la; me agrada antecipar, em pensamento,
A forma, o cheiro, a textura do seu corpo-nu
E o gosto que emana seu sexo.

13 abril 2010

Mata-Munhoz

Já faz tempo que eu
não me sinto viver
Obviamente eu ainda
respiro e essas coisas...
Mas é que, assim,
Sem sentir muito –
demais e exageradamente
Acaba que viver vira outra coisa
Uma coisa um tanto
Manhosa e outro tanto qualquer coisa
Que não dói,
Mas como faz cócegas!

04 janeiro 2010

Marcos Sarieddine

O MAR

Meus pés à sua beira,
como se sua imensidão
já não fosse o bastante,
suas ondas
em modo constante
impõe em mim
a contemplação
de um velho monge tibetano.

Vejo no mar o infinito de Clarisse,
Sinto nele, a divindade de Iemanjá.
Tudo é simplesmente lindo.
É tudo e é simples.

Não me iludo.
Eu sei que não seria em muita dor,
que não seria nada menos
que uma verdadeira tragédia.
Sim, seria trágico,
mas eu também sei,
que seria uma das maiores honras,
morrer no mar.

26 dezembro 2009

Bruel

Manguezal Paradisíaco

Piso em terra, pelo asfalto
Negro vejo dias brancos
Pisca alerta, alarme alto
E o canto:

Trópico espiral
Montanha russa desembestada
Raptos a cem por hora
Lapso a troco de troncos

Janela espia dorsal
Caranguejo
Por inquietos instantes,
Narcotráfico lampejo

Beira televisiva companhia
Assiste sede de cartão postal
Palmeiras, lama, AR 15, cacal

Poder abusivo
Poder paralelo
Poder aquisitivo: compro
De sabor morango o preservativo
(Preserva o sexo
Preserva vida) e
Um telefone fotográfico que sorteia luz no salão
Destino: nuca e pescoço
Virtual vampiro moço em
Nua peleja:
Teus (an)seios (an)corados em sutiãs,
Minhas ruas

Ver conjunto só
Não basta
Punhal de solução
Monte sem vento,
Perto está longe..

06/2000

13 dezembro 2009

César G.

Currículo de Vida
Escrevo
minha matéria é o risco.
Vivo
minha matéria é o risco.
Arisco em meio à desordem,
arrisco:

Desarrumo – Desafino – Desafio – Desconfio – Descabelo –
Dispiroco – Desagrego

De Drummond a Torquato, o anjo continua sua queda eterna:
Quando eu nasci, um anjo porco, meio punk, meio lôco, disse pela minha boca,
rota:
Soul
assim meio...
Dionísio – seguindo a poliédrica ordem do caos, cá e lá, lá e cá.
assim meio...
Blake – passei do excesso, majestosa sabedoria dos limites além.
meio...
Rimbaud – meus desregramentos deliberados, orgias de sentidos mistos, místicos, múltiplos, mínimos.

E sigo,
tomando porrada,
ralando.
Mas, afinal, quem não rala não goza.
Yeah!

08 setembro 2009

CABELOS AO VENTO

BARCELONIA

Quem foi que afirmou ser dificil comunicar
e deu o nome nessa dificuldade de torre de Babel?
Quem o fez não levou em conta que a fala
é só uma das maneiras de expressar.
O gesto diz
O corpo fala
E podemos estar juntos sim!
Calorosamente
Inocentemente juntos
Em silêncio, porque não?
Quem inventou essa torre tão intransponível de Babel
Queria que o verbo fosse o início de tudo
E a carne fosse fraca.
Quem inventou essa porra de Babel
Tinha lá suas intenções
Devia ser um chato
E não sabia ficar de boa
Não fazia sexo
A mais transcendental das comunicações!



26 agosto 2009

Mata-Munhoz

Vastos campos floridos incendeiam
De assalto meus ouvidos me chateiam
Brada forte o alarido em desespero
Fogo alto tomará todo o terreiro

O medo alarde na imensidão
Perde-se a vista num calor d'inferno
Enquanto tudo se julgava eterno
Queimam as faíscas em ingratidão

E num lamento assim se vão as flores
A graça e a vida queimam-se a jamais
De pronto nada já não resta mais

Há quem lamente, pois, o fim das cores
Não vê aquele que as flores ama
Muito mais bela há de ser a chama

05 agosto 2009

Du Bruel

Rester Vivant

Je suis le ténébreux, le veuf, l inconsolé,
Le prince d Aquitaine à la tour abolie...
Ma seule étoile est morte, et mon Luth constellé
Porte le soleil noir de la melancolie...

04 março 2009

Cabelo ao Vento

Para Galuber Rocha

Ritual de carnaval

Camadas e camadas
de alucinados

eu ali um nada
marcando o zero

os temas de carnaval
repetiam-se intensamente
durante todo o dia

Agora estávamos num transe perpétuo

só a música nos desperta
do sono do silêncio individual

Cabelos ao Vento

Aliviado do amor
solto pelas ruas
caminhei durante todo o carnaval
sem a pressão da paixão

Pássaro que voa sozinho
O céu é vasto
não tem quem me acompanhe
vejo tudo com o instinto
vou onde o vento me leva

o amor aprisiona
tanto quanto liberta
eu sou minha própria seta
pro infinito

17 fevereiro 2009

Marcos Sarieddine

Poesia dedicada ao choro matinal de Fredão em Macacos

Tem dias em que
as horas não tem fim.
Sou eu quem se apega
a fragentos de histórias passadas.
Você já deve estar
em outras águas,
bem mais mansas que as minhas.
Eu sou a tormenta sentimental.
Faz mal você de querer
temperaturas mais amenas.
Talvez nunca saberá
como se faz pra rir
ao mesmo tempo que chora.

08 janeiro 2009

Hélio Luís

Balada dos que viajam sem dinheiro e sem mulher


Aqui estou novamente! Fugir por amor é pouco.
Meu antigo amor se mudou, antes de mim ela planejou
Tudo o que eu lhe dizia ser minha vontade, ela antes
A mim fez, sem saudade. Nunca, jamais me revelou algo seu,ai,
Apenas perfidez. Agora ela se mudou pra mais distante
Do meu coração batido, pois ela sempre me usou bastante.
Ela, que me usurpou, largou o osso quando duro ficou,
Sem alvoroço, com frieza, quer continuar a me usar
Na sua fácil e alegre vida de princesa...
Sim, quando estava ela sem emprego,
Ela me empregou em trabalhos manuais sem recompensa...
E eu, que me julgava advertido, triste e calado
Fiquei com o coração assim, barato vendido.
Quem vê pensa, quem vê pensa que eu saí por cima.
Mas foi ela, a quem tudo confiei e que nada me confiou (ai, apenas perfídias),
Me usou e ridicularizou, brincou comigo em
Áspera e cruel dispensa. Mas fugir por amor é pouco!
Pois vou-me em busca de outros coitos
Afinal, o amor é isso:
Intenso, longo e prazeroso coito
Sim bora, pois se meu biscoito não afunda fica afoito.

27 dezembro 2008

Bruel

fragmentos de um diálogo amoroso

Você acabou de acordar de um sono lépido e agitado
Porque dormir? Você me perguntou, desperta.
Não saberia responder-lhe, pelo motivo que era noite
Despertou em plena noite.
Sonhou?
Com o acordar e, quando levantava, estava num sonho
Como agora
Um beijo longo só faz sentido após inúmeros beijos curtos...
Porque, então, acordar?!
Só acordamos para dormir novamente, meu amor...

Bruel

continuação do texto de Setembro

Cruzando a porta se dirigiu até o centro da sala. Seu olhar estava fixo em si, não perdia um movimento. Sobre a pequena mesa aparecera o impensável: vísceras de todo o tipo banhadas em sangue, um sangue quase negro. Os órgãos tinham uma aparência não estranha... Seu recipiente, espécie de concha feita de ossos amarelados, em forma de abóbora. Engulho, náusea profunda sentira quando se viu a mastigar os antros. Uma tosse sobrenatural e estrondosa tomou conta devido ao cheiro de carne azeda lhe sufocando a fússa. Retumbando por todo o apartamento como um tambor infernal, cessou repentina e brusca. O silêncio era lentamente distorcido pelo crescente múrmurio da voz que soava, como que submergindo de um abismo, em seu ciciar inicial, já como uma multidão a grunhir. Foi tomando fôlego e forma por alta gravidade sepulcral, pronunciando essas palavras de dúvida e certeza: Mas, és uma cópia, simulacro ou representação exata ou imperfeita de mim mesmo!? Sim, és ti! Consciência ou coisa, aqui não importa! Caminhou por entre sombras e desertos ao longo de milênios, condenado a errar sob noite eterna, em busca do que se supunha ser. O olhar ébrio se dirigia aos próprios olhos e à bandeja contendo carne muda: Oh, que interessante gosto saliva em minha boca ao deliciar crua, fria, talvez carne da minha carne, como as estrelas e pedras da noite em união...
Amo o que não sou!
Ecoou tais palavras nas paredes frágeis, em uníssono, iniciando um tremor incessante e crescente: Aprecio então rugas em bonecas, triste crueldade dos palhaços, virtude dos assassinos na razão da insanidade... Gargalhou sem hesitar, extinguindo as últimas tentativas de compreensão daquilo. O teto emitia estalos de desabamento, prestes a sucumbir.
A proximidade entre os sósias era a de um palmo, se olhavam com espanto profundo quando, da direita, uma dentada desferida rápida atingiu a ponta de seu nariz, arrancando-lhe um pedaço:
A distorção é teu espelho!
Com tal frase foi-se para não voltar.

26 novembro 2008

Mata-Munhoz


Imaginei ter o domínio
Se não todo, ao menos algum
Ao agarrar-lhe o bumbum
E penetrar-lhe o dedo mínimo

Breve mostrou-se minha fraqueza
Quando em sua sagaz destreza
e num gemido delirante
deixou-me o corpo todo errante

Revirou-se, ágil, de pronto
Num encaixe quase perfeito
Entre a vulva, o pênis e o leito

Deixou-me por completo tonto
Qu`antes de pôr-me em sua caverna
Regozigei-me em sua perna

01 outubro 2008

Mata-Munhoz


Vastos campos floridos incendeiam
De assalto meus ouvidos me chateiam
Brada forte o alarido em desespero
Fogo alto tomará todo o terreiro

O medo alarde na imensidão
Perde-se a vista num calor d'inferno
Enquanto tudo se julgava eterno
Queimam as faíscas em ingratidão

E num lamento assim se vão as flores
A graça e a vida queimam-se a jamais
De pronto nada já não resta mais

Há quem lamente, pois, o fim das cores
Não vê aquele que as flores ama
Muito mais bela há de ser a chama

29 setembro 2008

Mata-Munhoz


Não acredito na felicidade
Senão no rosto da mulher feliz
De resto, nada além de diz-que-diz
No rumo incerto d`inútil vontade

De tudo que possa em si existir
Afora o amor, só haverá matéria
Vazia, insípida e, ademais, estéril
Para o bem ou mal de nosso devir

Deste mundo nada se há de aprender
Pois de profundo tudo jaz no oculto
Seja ao bom peão ou ao homem culto

No mais, cabe somente apreender
O que nos possa vir ao coração
embalado em amor e em louca canção

23 setembro 2008

Bruel

Vegetariação,ou, Aquilo (o) que Somos

"... admitamos, ainda, que os invisíveis conservem sempre sua identidade, enquanto que com os visíveis tal não ocorre." Platão

A cidade se recolhia através de um crepúsculo plúmbeo, meio-cinza-alaranjado, em mais um dia de rotina. A noite demorou a cair, ofuscada pela intensidade com que as cores, o verde embaçado das ruas arborizadas, se deleitavam em sua lenta propagação. No entanto, caiu pesada e sem estrelas, núvens baixas e carregadas, como o céu distorcido e grotesco de El Greco. A cidade, agora soturna e quieta, desfilava suas gatas e morcegos pelas ruas vazias.
Numa confluência entre bairros que compunham a pequena zona central, uma rua estreita e sem luz. Nela, um pequeno prédio, poucos andares, escuro e de muro descascado, quase abandonado. No último andar, num apartamento de fundo, um sujeito lá se encontrava, talvez por dois ou dez anos, não se sabe ao certo.
Ali residindo em plena veia cava, nervo óptico central das cidades, estes centros polimorfos, residindo ali isolado de tudo e de todos, imperscrutável, sob frio e profundo silêncio.
Sempre, durante quanto tempo não se sabe nem jamais se saberá, ao entardecer, esse vegetariano assentava-se à pequena mesa de madeira rota, peça chave do excasso aparato mobiliar, e iniciava seu ritual metódico para matar a fome. Não se sabe como e do que vivia ou fazia para sobreviver. Talvez um desenhista, deduzindo-se pelos papéis que continham esboços e perfis de mulheres nuas. Tais silhuetas, distorcidas por uma atmosfera de bruma e escuridão, se reparadas com atenção, revelavam as mesmas formas e uma semelhança que se pensaria pertencerem à mesma mulher. Músico, jamais seria, simplesmente devido ao abissal e grave silêncio que emanavam aquelas paredes. Não havia relógio naquele espaço estranho. O tempo parecia ser medido através de eternidades.
No exato instante em que terminou de mastigar o último pedaço de alho, ouviu nas escadas passos pesados e duros, uma marcha de um único sujeito, que culminou com um toque, um toque apenas, lacônico e forte na única porta. Sem se pronunciar, não havendo espelho mágico em sua porta e como que já pressentindo quem estaria a fazer tal visita possivelmente esperada, o pitoresco anfitrião levantou-se maquinalmente e destrancou-a sem, no entanto, abri-la. A porta se escancarou. Seus olhos secos e miudos expressaram num arregalar o horror e o absurdo da presença do outro, sim, ele próprio, perplexo diante de si mesmo, seu eu o visitante, trajando roupa rota e fora de moda, mudo e ausente diante do espelho vazio.
Cruzando a porta se dirigiu até a mesa.

continua...

01 julho 2008

Mata-Munhoz


Anunciação

Do céu acima veio acertar-me o olho
De modo que, no primeiro instante
Tive de fechá-lo no impulso
Não doeu, mero instante de cegueira
O estalo fora quase um afago
Inesperado, é claro
- Eu não contava olhar para cima
Esclareço – não tenho crenças
Não acredito, portanto, no acaso
Não foi preciso aceitar
. Veio-me de graça
. com inestimável preço
Não foi preciso agradecer
. Tampouco houvera indulgência
Somente um acontecimento molhado
Num lampejo em que meus olhos
Imediatamente cerraram-se e reabriram
Nada mais que num lampejo promissor
Pois ao abrir os olhos
. O mundo antes turvo
. acre, seco, surdo
quis encontrar-me de acaso
e no entanto, hoje penso,
não fora nada além de uma gota
A primeira gota
A anunciação da tempestade

24 maio 2008

Mata-Munhoz


Pensamentos amaldiçoados
Minhas forças mais brutais
a mim me devem fazer mal
Hoje não posso ser tão contemplativo
Preciso espancar alguém
Nesta cama feito túmulo
Sepulto toda forma de sorriso
Nesta cama feito túmulo
O tempo não irá adiante

Sopros de mil impressões
Hora povoam e revivem
No maldito inconsciente
e me encontram desarmado
O inimigo mais vulnerável
Eu, meu corpo, minha fraqueza
Malditas imagens
em mim teimam em se sonhar

Não vejo além do concreto em face
Num dia gris a vida é gris
Preciso sair deste quarto
O quanto antes sair de mim
Preciso ser outro – e logo!

Maldita impressão
de ter tido de abrir os olhos
Para uma tarde sem esperança

Enquanto o homem dorme
Os demônios cativos à espreita
Estreitam os braços e
o tomam pelo pescoço

Hora não há mais esperança
Inútil faz-se lutar
Só mesmo a espera
Resignar-se e tão somente
Deixar com que doe
Com que queira me matar
e nada faça
Até que os demônios se cansem
Deles não espero piedade
Quero antes seu desinteresse
Pois nesta planície devastada
de minha tristeza interior
Até mesmo eles verão
Que nada há de interesse
E só assim, somente assim
Poderei um dia aos poucos
Recompor minha fortaleza

11 maio 2008

Mata-Munhoz

Vago pelo mundo imenso
Mas o que eu quero mesmo
É um buraco

18 abril 2008

Mata-Munhoz


Tenho sono
Mas sem qualquer
vontade de dormir
Porque sei que
os homens alados
só vêm quando querem

Eu, do que sei
Sei de códigos de lei,
de deveres, afazeres
e prazeres que eu não terei

Minha cama de concreto
está que me soca o intestino
e o destino ainda secreto
não me permite desatino

Silencio, já é hora
Mas demora, vem o cio
e aflora até mesmo o desejo importuno

Coaduno um instante
Só até que eu me levante
e me zangue por estar zangado

Novamente me atrevo
decompondo o relevo dos lençóis
e mil faróis se sobrepondo

Pendo, peno, penso

Penso que não quero pensar
Mas com pesar
pois bem sei que a noite é longa

Me alongo, não é findo
Pernilongo vem zumbindo
Sem delongas salto novamente

A noite é escura

Linha dura,
Minha pura insolidez
e vem a vez de desistir

Saco a caneta,
que fazer!?
Logo me meto a escrever
Escrevo em estorvo
Faço um poema
Ou algo assim
deixo o dilema junto a mim
de não saber se esse poema
terá fim

Abrupto, deixo que seja
mais um mero poema corrupto
me entorpeço de sonífero
e o largo inconcluso
pois talvez só com abuso
terei então o sono enfim

16 abril 2008

Marcos Sarieddine

3 haikais

Razão

A lua toma para si
a luz do sol
e vemos


Rumo

Na encruzilhada
quem decide é
o cavalo


Certeza

O grande senhor tempo
devora tudo
por fim

23 março 2008

Anonimus

Recíproca

Um jôrro
O vazio
Enche

Vaza
No leito
Leite

Teu alimento
Lento

E o centro
Do teu seio,

Vaso
Que me
Sustenta

Quente

12 fevereiro 2008

Bruel

Melindrosa
Eu sou gata, gatinha

na beira da janela

Gatinha mimada

Trancada na sala

Gatinha mimada

Na barra da saia

Só como o que quero

Não passo da porta
Porque não posso não

Ou acho que é melhor não.

04 janeiro 2008

Maia Bruel

Meu Van Gogh

... as pombas brancas da esperança a sussurrar:

e quem nunca pensou em cortar uma orelha?

09 dezembro 2007

Maia Bruel

Tarde de sombras

Pouco crepúsculo vejo,
Quase um ruído
Nenhum lampejo.

No ar imóvel da tarde seca
Paira ligeira brisa,
idos desejos.

Um lago onde me despejo,
parado e raso,
a nado parco me movo e me perco
no fogo que transcedo.

Dissolvo a escuridão no silêncio,
torço o dorso feito
ovo-oco,

sob um qualquer firmamento
me esqueço.

E as luzes dançam em cadência caótica

e soa meu vento em coro com o imenso,
globalizado
desespêro...

20 novembro 2007

Mata-Munhoz


Soneto ao humanismo

Quão de hilário em discursos tão repetidos
Dos que o fim profetizam ou, por vez, o amor
Vazio conteúdo, pois prever é por
Mera fé na continuidade do ocorrido

E quão dementes os que abstraem os conceitos,
Os que em si-só podem ver a sociedade
E daí fazerem-se donos da verdade
Julgando universais seus solitários feitos

Brota então o amor pela raça humana a vir
Como se especulados, foss'à vir melhores
Quanta fé boçal, a esmo, no qu'há por vir!

Não seria sua morte que lhes causa horrores?
Sem sabê-lo, não se sabendo assim ridículos
Ao confundir o amor humano e seus testículos

17 novembro 2007

Maia Bruel

Deus Digital

Nauseante visão de roupas-flúor,
transe-toque, dedos, pseudo-deus-digital.
Deuses noturnos, de óticos delírios.
Ébrio pelo tráfego esfrego-me.

Lábio confuso
expele mãos,
Intruso.

Eletrônicoscopia
Ebulição ecumênica.

Eletronicassonância pairando rubicunda,
Entre calças de tectel
Uma anágua de cetim.

A patrícia afundada em desejos
Perdia a laia borboleta
Bebericava frôser,
Fumava haxixe...

daímon.

11 outubro 2007

Vinikov

DO THE COOPER


com o cuspe branco no canto da boca
a classe A acaricia
a bunda da classe B
que põe nas coxas
da classe c
e todas usam camisetas
de malha com estampas
do herói revolucionário
camarada Che

03 outubro 2007

Maia Bruel

too much maniac
in my brain
so many maniacs

you feel the pain
if you have
too much feelings

dead feelings
on the rain,

oh

22 setembro 2007

Marcos Sarieddine

Caminho

Perdido na estrada
eu errava.
E aprovoveitava
cada encruzilhada
pra me perder
um pouco mais.
(...)
O que vale é levar
o irrestrito amor

para todos
os encontros casuais.

29 agosto 2007

Ivn Vz

poemas de primeira picardia
1
meu primeiro beijo
na porta da escola
foi depois do recreio
e de muita coca-cola
2
não me lembro quanto
mas fui afoito
já me lambuzando
no meu primeiro coito

26 agosto 2007

Ivn Vz

quase tão frágil que
você me pega e
eu desmancho
quase tão ágil que
você me cega e
eu te acho
quase tão fácil que
você me nega e
eu te mando

20 agosto 2007

Maia Bruel

... pela contra mão, saindo de ruas sem saída, saltando cercas elétricas, rasgando cartões de crédito, roubando identidades e cpfs, destruindo carros, bebendo chuva ácida, sem protetor sob o sol, os olhos sangram, o hálito fede, a boca espuma, furando sinais vermelhos, derrubando postes, sem taqui-cardia, rumo ao dia acaricio a fúria, fumo fogueiras que acendo no centro, cuspo nos pés dos soldados, esmurro quem não me olha, cego, não atravesso em faixas, grito o cio das fêmeas, incendeio apartamentos, atiro em câmeras que me filmaram, derrubo estátuas, queimo rótulos e outdoors, espanco jovens e velhos, esporro do alto de varandas num semear do ódio, minha colheita será os assassinos,
numa Igreja adentro...
Paro, busco o silêncio.

18 agosto 2007

Marcos Sarieddine

Ordem do dia

Pela ordem do dia
a arte!
E dela faz parte
todo tipo de magia.
Viva a música
que nos encanta.
Salve o teatro
que nos sacia.
E viva o carnaval!
E viva o carnaval!
Uma ode a alegria.

17 agosto 2007

Marcos Sarieddine

Parfin

Passa a mulher,
fica o perfume,
começa a ilusão.

Ivn Vz


PELE
BRANCA
PELÉ
PRETO
PAÍS
BRANCO
PAIS
PRETOS

14 agosto 2007

Ivn Vz

Uma vez eu era feliz e tentei suicídio
Uma vez eu parecia dentro de um quadro de Malevitch

Um vez fiquei bêbado com um amigo
Uma vez o carro quebrou no meio de uma estrada

Uma vez andei por uma rua bonita
Uma vez pensei ser o elvis, esses foram bons dias

Uma vez gostei de festas
Uma vez conheci cristina aguilera

Uma vez tb conheci um cão vagabundo
Uma vez roubei uma guitarra

Uma vez fui o centro das atenções pra alguém
Uma vez ela foi minha, juro.


12 agosto 2007

Marcos Sarieddine

Eu e Ele

Não sou daqueles
que se relacionam com deus.
Mesmo que por vezes
venhamos a nos ver,
parece que nossos interesses
não se convergem a um ponto comum.

Estamos além um do outro.
Quando nos encontrarmos
para enfim tirar tudo a limpo,
espero que tudo termine num abraço fraterno.

Marcos Sarieddine

Dentro

Clarão é ver a vida
pelos olhos dos poucos
a tempo de esquecer
toda a formalidade
dos ternos escuros
que ofuscam o querer

Cabelos ao Vento

ABANDONO DE MIM

Eu
quando você me disse que o roxo é azul com vermelho
e sua mão tocava a minha
ainda não sabia

Hoje, o vermelho que você me trouxe
fez do azul que eu dominava
amor do roxo
e eu não mais fosse
eu.

09 agosto 2007

Maia Bruel

Foi-se ao cerrar da janela em foice a esperança,
Há esperança!? Em mim, a mim só me restou a vingança
De um dia quente, imundo, ocre de lembrança
Arranhada, filha da fúria, injúria e vingança (0bstinança).

Lhe destronarei o trono gordo de meus silêncios fartos,
Calcularei com calma fria e branca a agonia tua do meu parto,
Lhe amarelarei os dentes enxertando ódio no teu riso, farto,
Lhe mandarei espelhos de escárnio.
Friso, repito: traira os deusess da tormentas,
Chegar-te-a em casa tua carta-sangue de presságios
A ti o infortúnio abaterá lenta

Em desalento profundo de silencioso desespero o futuro a ti será miséria de
Sofrer a solidão em degredo,
Esquecido, náufrago, segredo.

03 agosto 2007

Rafael Ludicanti


Nossas idéias seriam geniais
mas não são.

Nosso prodigioso destino é um fiasco.

Somos nós que sofremos quando
sacaneamos as meninas.


Eu sou particularmente preguiçoso
e não estou me divertindo.

Cheguei ao estágio em que é
necessário rabiscar garatujas
para deslocar o cérebro do estado de inércia.

02 agosto 2007

C ao V

Cartão Postal

Faço um quadro
Sem moldura
E guardo pra você

31 julho 2007

Maia Bruel

Encontro

Em um beijo meu anseio se dilui.
Peregrino desejo,
amálgama ébria de fluido e sal
sob o véu da noite, o luar.

Uma boca procura outra boca.
O vazio é preenchido pela mais sutil das línguas
a tocar o céu do universo palatal.

Maia Bruel

MARCHA HOPLITA

Deságua exangue
Sobre o sal o sangue
Exposto ao sol

O Deserto

Doutor há séculos enjeta fentanila
Sem que ninguém soubesse,

Apenas a veia cava.

28 julho 2007

Mata/Munhoz

Quando é amor
é dificil, mas
tao vivido, que se sabe
Mas quando é sentimento
profundo, que nao se sabe
nada se sabe, tao profundo
nada se sabe
nada se sabe...

26 julho 2007

Maia Bruel

NOITES

Noites sem sentido
Noites sem fim
Noites sem ti
Noites sem destino

noites
noites
noites sem

Noiva
Em desatino,
No frio,
Noites sem Rio...

25 julho 2007

Ivan Vaz

ela quando
quase dele
ele quando quase dela
corre
corre
corre corre
uma
trás
o
utro
um atrás outra
chutando cachorro morto
chutando cachorro morto

24 julho 2007

Rafael Ludicanti


Oh, espíritos mascarados me aguardam no corredor
com acerto de contas pendentes
os pensamentos que se sucedem
me parecem típicos
de um primata
naquilo que tenho a impressão
de que um primata seja
ou fosse
antes de evoluir para a selvageria
dentro do meu crânio uma melodia atonal
evoca meus instintos mais macabros
de sobrevivência e entretenimento.

22 julho 2007

Mata-Munhoz


O problema do tabagismo
é que todo cigarro tem seu fim
e assim temos sempre que voltar
ao ócio vital em que críamos não estar
enquanto fumávamos...

15 julho 2007

Marcos Braccini

o tiro saiu pela culatra
e eu saí a francesa
pela escotilha
não tive escolha
nem escolta
na volta para casa
e a minha promessa era
tentar ser discreto:
nenhum alarme
ou passos ruidosos
sobre o cimento
depois de quebrar a cara

02 julho 2007

Vinikov

Texto mal-acabado

Um dia ela gritou do berço
e esse grito ecoou no universo.
Da rosa, saiu o verso que me despiu.
Cresceu, rasgou com unhas minhas cartas.
Num ímpeto qualquer
entregou os restos às minhas lagartas prediletas.
Da epiderme ao verme.
Na Antártida folhou vários livros
de matemática sem sentir calafrio.
Inventou um dialeto para conversar com seus pés.
Criou a fala para o falo.
Deu de má-má para Maomé.
Num apelo arrancou-lhe os pêlos um-a-um.
E coroou-lhe Qualquer.
Em briga de marido e marido
não se quebra uma vértebra.
Mais tarde quando a narina arde,
Ela casou-se com Xavier, que gostava de xadrez
mas não sabia tratar uma dama. Era só:
CAMA
NENÉM
FAMA
MAMA
NUVEM.
Ela cubista, ele pessimista.
Ela puta, ele deputado.
Ela ilustre, ele cuspe.
Ela poema, ele texto mal-acabado.

Ivan Vaz

COMO CABELOS AO VENTO E MARTA MEDEIROS
espelho espelho meu,
existe alguém que reflita mais
do que eu?

Ivan Vaz

o que seria feito da vida
se não fosse o que seria
impossível única via
tão vasta como minha
dura espinha melancolia?

Ivan Vaz

OP
é
DOM
eu
P
ai
é
gran
dede
mais
A
mão
da
min
h
A
mãe
min
íma

01 julho 2007

Pedro Braccini


por vezes
paro e
penso
peco?
perco meu olhar

que acho noutro lugar
submerso em nádegas

29 junho 2007

Cabelos ao Vento

Balada da livre docência


Não, não, não
não me disseram que eu tinha esta roupa

não, não, não
hoje vou sair de tio sam

não, não, não
não me disseram pra fazer o que eu quisesse

não, não, não
eu reparto meu cabelo como e com quem eu quiser

não, não, não
eles estavam querendo me desfazer

não, não, não
tira mão

é meu, eu vi primeiro
eu?

eu não me entrego
eu gosto do meu ego

gosto de palhaço
e de mim eu me desfaço

quando quero
danço até bolero

com minha mãezinha

e mais louco é quem me diz, que não é feliz

27 junho 2007

Cabelos ao Vento

Iluminação

Era pra ser um dos grandes
ela estava me fisgando
quando eu

moribundo
preguiçoso
vagabundo
deitei

e curti a sensação plena
daquele poema

Felipe Leite

26 junho 2007

Pedro Braccini

TERCEIRA CATEGORIA

mais essa redondilha
círculo vicioso
uma quinquilharia
que não vem a calhar

um calhau afinal

Pedro Braccini

no rasgo pleno
a agulha no ânus

o tempo e s g a r ç a em anos

na esperança da próxima dor
a pele arregaçada
olhar cicatrizado
nunca mais ileso

represa de pus
não sei onde pus o medo

o som retido
perdido
pra
sempre
pra
dentro do grito

Felipe Leite

25 junho 2007

Vinikov

(sem título)

Numa cadeira de praia
punk
logo de manhã
com novíssimos
ray-ban
com uma blusa
de lã
vejo Hiroshima
mais vermelha que a China


23 junho 2007

Cabelos ao Vento

Espelho, espelho meu
o que existe além de mim
sou eu?

21 junho 2007

Ludicanti


pelo perpétuo vaga
um não sei quê de indagações previsíveis
antes de tudo e de mais nada
como antes e depois
ou quase o mesmo
mas não é
dessa maneira que alcançaremos
no intangível a obscura
saída da caverna desde onde a luz
projeta sombras retidas em nossos calcanhares

08 junho 2007

Felipe Leite


Vinikov

(sem título)

depois de momentos iluminatórios
gerados por lâmpadas amarelas de 30 wats
fiquei como um espantalho de braços
abertos para o terrível
ouvindo o galope antigo de um soluço
de pernas para o ar
e a motocicleta sem freios que sempre
desce uma ladeira íngreme depois da chuva
começou a rugir o motor e vir
para o terreno baldio onde faço
minhas escavações
de repente bilhares de escorpiões de aço
vermelhos e amarelos começaram a vir também
todos se arrastando como guitarras estraçalhadas
no palco da minha solidão
as enormes rodas de borracha começaram
a atropelar meus pensamentos
a amassá-los como latinhas de refrigerante
então encostei o dedo na minha consciência
e comecei a dançar a dançar como um deus doido dançaria
se houvesse deuses que dançassem

>

Ludicanti


Desistir é fácil
então acho que vou
desistir!
Viver uma péssima fase
não é uma boa desculpa
para continuar vivendo
e como duvidar
da própria existência
dos outros
não resolve meus dilemas
estar parado diante
de um móvel de madeira
pode ser espetacularmente
mais significativo
do que ser amado.

Cabelos ao Vento


Reminiscência Revista


Da possibilidade de ser
a última a única vez

num instante
o corpo é roupa
sobre a pele

sensação a primeira vista

Vista

O corpo é sua delícia.

Ivan Vaz

Era uma ves

pa vo (r!!!)

ando

pela noi

te amo

r!!!

Thiakov

...

Ó meu filho querido
Não souberam olhar para ti...

07 junho 2007

Vinikov

(sem título)
meu sangue histérico
espirra na garoa
no meu sangue histérico
o metal pesado das indústrias
faz a sua flanerie
assim como eu caminho numa rua qualquer
de Berlim do meu inconsciente.
pai de todos os orfãos da cidade
eu sou um nada construído pela linguagem
que é ripa na chulipa

Ludicanti


O cântaro úmido
disse adeus

As estrelas minguantes
disseram adeus

Você disse adeus

Eu permaneci
inóspito

Miguel Capobianco-Livorno

Poema Inaugural

Teço as primeiras amarras
somos criaturas radiotivas
meu impulso nervoso
procura seu casulo
no âmago da glândula pineal.

Falhamos ao ser poetas.